segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

 18/02/2017
 
ESCUTAR JESUS, PALAVRA DO PAI, É VIVER UMA VIDA TRANSFIGURADA E GLORIFICADA

Sábado Da VI Semana Do Tempo Comum

Primeira Leitura: Hb 11,1-7

Irmãos, 1 a fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem. 2 Foi a fé que valeu aos antepassados um bom testemunho. 3 Foi pela fé que compreendemos que o universo foi organizado por uma palavra de Deus. Assim, as coisas visíveis provêm daquilo que não se vê. 4 Foi pela fé que Abel ofereceu a Deus um sacrifício melhor que o de Caim; e por causa dela, ele foi declarado justo, pois Deus aprovou a sua oferta. Graças a ela, mesmo depois de morto, Abel ainda fala! 5 Foi pela fé que Henoc foi arrebatado, para não ver a morte; e não mais foi encontrado, porque Deus o arrebatou. Antes de ser arrebatado, porém, recebeu o testemunho de que foi agradável a Deus. 6 Ora, sem a fé é impossível ser-lhe agradável, pois aquele que se aproxima de Deus deve crer que ele existe e que recompensa os que o procuram. 7 Foi pela fé que Noé, avisado divinamente daquilo que ainda não se via, levou a sério o oráculo e construiu uma arca para salvar a sua família. Pela fé, ele se separou do mundo, tornando-se herdeiro da justiça que se obtém pela fé.

Evangelho: Mc 9,2-13

Naquele tempo, 2Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou sozinhos a um lugar à parte sobre uma alta montanha. E transfigurou-se diante deles. 3Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar.4Apareceram-lhe Elias e Moisés, e estavam conversando com Jesus. 5Então Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: “Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. 6Pedro não sabia o que dizer, pois estavam todos com muito medo. 7Então desceu uma nuvem e os encobriu com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu Filho amado. Escutai-O!” 8E, de repente, olhando em volta, não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus com eles. 9Ao descerem da montanha, Jesus ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos. 10Eles observaram esta ordem, mas comentavam entre si o que queria dizer “ressuscitar dos mortos. 11Os três discípulos perguntaram a Jesus: “Por que os mestres da Lei dizem que antes deve vir Elias?”  12Jesus respondeu: “De fato, antes vem Elias, para pôr tudo em ordem. Mas, como dizem as Escrituras, que o Filho do Homem deve sofrer muito e ser rejeitado?13Eu, porém, vos digo: Elias já veio, e fizeram com ele tudo o que quiseram, exatamente como as Escrituras falaram a respeito dele”.
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Ter Fé É Acreditar No Invisível Para Entender o Sentido Do Visível

Depois de duas semanas, terminamos nossa leitura dos primeiros capítulos do Livro de Gênesis com um texto da Carta aos Hebreus que lemos na Primeira Leitura deste dia. Este texto (Hb 11,1-7) resume os exemplos mais edificantes dos personagens dos primeiros capítulos do Gênesis com o intuito de estimular nossa perseverança na . Este texto é um elogio para nossos antepassados remotos, que começa com um tipo de definição do que significa ter : “A é um modo de possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem” (Hb 11,1).

Os escritos de São Paulo e os Evangelhos associam indissoluvelmente a fé com a pessoa e a obra de Jesus Cristo. A Carta aos Hebreus considera a fé como uma atitude do homem diante do mundo futuro e invisível do Céu. Aquele que está firmemente persuadido da existência dessa “Pátria superior” (Hb 11,13.16), dessa cidade “do Céu” (Hb 11,10.16), este mostra ter fé. Nisto tiveram muito mérito os crentes do AT que neste texto são mencionados três deles: Abel, Henoc e Noé.

No AT Abel é a primeira testemunha da fé. Segundo a Carta aos Hebreus, Abel ofereceu um sacrifício superior ao de Caim. Por que o sacrifício de Abel era melhor ou de mais valor do que o de Caim, é algo que não se diz no AT. Mas para a Carta aos Hebreus é evidente que a fé fez agradáveis a Deus os dons de Abel. A história de Abel se expõe na Carta em função de Cristo. Cristo ofereceu um sacrifício melhor do que o dos sacerdotes do AT. Tudo que fizermos com fé se tornará algo agradável para Deus. A fé é a atitude básica de qualquer crente, de qualquer cristão, pois ela é a resposta nossa diante da oferta do amor de Deus para nós. A oração evidencia, por sua vez, a presença e a vitalidade de nossa fé em Deus.

Outro personagem citado na Carta é Henoc. O exemplo de Henoc se alude a Eclo 44,16: “Henoc agradou ao Senhor e foi arrebatado, exemplo de conversão para as gerações”. Também em Eclo 49,14 lemos: “Ninguém sobre a terra foi criado igual a Henoc, ele que foi arrebatado da terra”. Na Carta aos Hebreus Henoc é modelo de uma fé e como recompensa de sua fé ele é arrebatado e traslado ao céu por Deus. Como no exemplo de Abel, Henoc ocupa o primeiro término o motivo da vitória sobre a morte. Porque acreditou em Deus e na recompensa eterna, Henoc deu testemunho da complacência divina já na vida aqui neste mundo. Pode, então, Deus deixar para sempre na morte um homem em quem Deus se compadece, um homem que acredita em Deus? O autor da Carta quer alertar aos leitores o perigo de renunciarem a fé por medo da morte (Hb 2,15).

Chama nossa atenção que no texto lido na Primeira Leitura se usa a expressão “aproximar-se”: “Ora, sem a fé é impossível ser-lhe agradável, pois aquele que se aproxima de Deus deve crer que ele existe e que recompensa os que o procuram”. A palavra “aproximar-se” provem da esfera cultual e se refere originariamente ao que se aproxima do altar com orações e sacrifícios. Aquele que se aproxima de Deus, deve ter a fé para não “ver a morte” (cf. Mc 9,1; Jo 8,52.52). A fé é a força que vence a morte.

Outro personagem citado no texto é Noé. Noé e o dilúvio foram, no cristianismo primitivo, imagens preferidas do banho salvador do Batismo (cf. 1Pd 3,20). Agora, a Carta aos Hebreus não volta o olhar ao Batismo, ao primeiro ato da salvação cristã, e sim volta ao futuro, já que os cristãos devem receber seu aperfeiçoamento que, todavia, é invisível. Assim, pois, a fé que Noé demonstrou não cai dentro do contexto da justificação e sim que faz parte da atitude do cristão, que diante de sua existência ameaçada de morte e de ruína, espera na promessa salvadora de Deus.

Como Noé, também somos instruídos sobre “as coisas que não se veem”(Hb 11,1), e como ele nós devemos seguir as instruções de Deus, que num princípio não são evidentes.

Os três aceitaram em sua vida o plano de Deus. Como todos os outros que viveram no AT, estes três não chegaram a ver claramente nem experimentaram a vinda do Salvador prometido por Deus, mas, mesmo assim, depositaram sua confiança em Deus incondicionalmente.

Ao refletir sobre os personagens de fé dos primeiros capítulos do Gênesis, o autor da Carta aos Hebreus quer estimular a fé dos cristãos de seu tempo. Este estímulo também não perde sua atualidade para todas as pessoas de qualquer geração e época. O autor da Carta quer que não exageremos nossas dificuldades, isto é, dar maior dimensão para nossas dificuldades, mostrando nossa pouca fé no Deus que é maior do que qualquer problema ou dificuldade. A Palavra de Deus proclamada na Primeira Leitura de hoje quer que nos deixemos animar por aqueles que souberam ser fieis a Deus inclusive nos dias mais difíceis de sua vida. Quando exagerarmos os problemas ou dificuldades, sem querer querendo, caímos na tentação de diminuir a onipotência de Deus.

Ser Cristão É Viver Uma Vida Transfigurada No Senhor Permanentemente

 A transfiguração é uma antecipação da ressurreição do Senhor Jesus que intenta levantar o ânimo dos discípulos, ratificando que o destino final não é a morte e sim a ressurreição. Por isso, em cada anúncio de sua Paixão (três anúncios), Jesus acrescenta esta frase: “... depois de três dias (o Filho do Homem) deve ressuscitar” (Mc 8,31; 9,31; 10,34). Por isso, um dos temas fundamentais que toma novo rumo no relato da transfiguração é o tema da morte e ressurreição. A morte deixa de ser o fim irremediável para o homem e a sombra do horror para começar a ser entendida como o transladar-se para onde Deus está, isto é, na plenitude. Por isso, desde então, a morte está intimamente ligada ao triunfo, e não pode ser entendida sem a luz da ressurreição. A morte não terá a última palavra sobre a vida do homem. A partir da experiência da transfiguração tudo pode ser graça apesar de ter uma aparência da cruz, pois Deus envolve tudo na sua misericórdia. O mistério da glória ilumina o sentido ultimo da Cruz de Jesus. Mas o mistério da Cruz ilumina o caminha da glória.

Podemos dizer que a transfiguração é o grito de Deus para não ficarmos desanimados na nossa vida, pois a lógica de Deus não nos conduz ao fracasso, mas à ressurreição, à vida definitiva, à felicidade sem fim. Cada um de nós precisa parar da agitação cotidiana para escutar esse grito de Deus.

Pedro se extasia diante da luz da transfiguração. Ele sente como se estivesse no céu. Por isso, Pedro quer permanecer ali sem jamais voltar à realidade cotidiana. Para isso, ele propõe a Jesus construir três tendas. Mas o evangelista Marcos comenta: “Pedro não sabia o que dizer”.

Podemos viver a experiência de transfiguração se nós negarmos a busca de interesses próprios e optarmos por assumir uma fé mais humanizada que produz uma nova forma de viver a realidade e renova nossa convivência de fraternidade.

A fé é o caminho da renúncia e da morte de nós mesmos para que Deus possa se manifestar através de nós. Somente com a morte de nós mesmos é que Deus pode anunciar e prometer uma vida nova para nós. Subir até Deus é morrer de nossos projetos pessoais, de tantos planos, esquemas e cálculos puramente humanos e pessoais para dar o lugar aos projetos de Deus. Certamente, nesta morte, Deus manifesta sua glória salvadora e sua eterna misericórdia.

Contemplar a cena da transfiguração é seguir o Transfigurado, Jesus Cristo. Cristo chama sem cessar novos discípulos, homens e mulheres, para comunicar-lhes o amor divino, o ágape, sua maneira de amar, e para convidá-los a servir ao próximo, no humilde dom de si mesmos, longe de todo cálculo de interesse.

Este é o meu Filho amado. Escutai-O!”. É a mesma voz do Batismo de Jesus no Jordão (Mc 1,11). Porém, há uma diferença. No Batismo a voz foi dirigida somente a Jesus. Agora é dirigida aos discípulos com o seguinte detalhe: “Escutai-O!”. A Palavra do Pai (voz) vem autenticar os ensinamentos de Jesus. Conseqüentemente, é preciso prestar atenção para tudo o que Jesus diz e ensina e vivê-lo logo em seguida para que a vida seja transfigurada desde já.

Por isso, contemplar a cena da transfiguração é seguir o Transfigurado, Jesus Cristo e viver seus ensinamentos, pois todos eles são reconhecidos por Deus Pai. E Cristo chama sem cessar novos discípulos, homens e mulheres, para comunicar-lhes o amor divino, o ágape, sua maneira de amar, e para convidá-los a servir ao próximo, no humilde dom de si mesmos, longe de todo cálculo de interesse. A vida dada é a vida recebida. Uma vida vivida para o bem dos outros é uma vida vivida para Deus e por isso, é reconhecida por Deus.

Portanto, com Jesus, a Palavra do Pai (Jo 1,1-3.14) a vida glorificada se inicia mesmo que estejamos ainda neste mundo. O cristão é aquele que vive na antecipação. A vida glorificada para a qual ele dirige seu olhar renova sua maneira de viver e de conviver de cada dia neste mundo. Tudo que ele faz e diz é sempre em função da vida glorificada.

P. Vitus Gustama,svd

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