sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

21/02/2017
 
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SERVIR NO ESPÍRITO DO SENHOR

Terça-Feira da VII Semana Comum

Primeira Leitura: Eclo 2,1-13

1 Filho, se decidires servir ao Senhor, permanece na justiça e no temor e prepara a tua alma para a provação. 2 Mantém o teu coração firme e sê constante, inclina teu ouvido e acolhe as palavras de inteligência, e não te assustes no momento da contrariedade. 3 Suporta as demoras de Deus, agarra-te a ele e não o deixes, para que sejas sábio em teus caminhos. 4 Tudo o que te acontecer, aceita-o, e sê constante na dor; e nas contrariedades de tua pobre condição, sê paciente. 5 Pois é no fogo que o ouro e a prata são provados e, no cadinho da humilhação, os homens agradáveis a Deus. 6 Crê em Deus, e ele cuidará de ti; endireita os teus caminhos e espera nele. Conserva o seu temor, e nele envelhecerás. 7 Vós que temeis o Senhor, contai com a sua misericórdia e não vos desvieis, para não cair. 8 Vós, que temeis o Senhor, confiai nele, e a recompensa não vos faltará. 9 Vós, que temeis o Senhor, esperai coisas boas: alegria duradoura e misericórdia. 10 Vós, que temeis o Senhor, amai-o, e vossos corações ficarão iluminados. 11 Considerai, filhos, as gerações passadas e vede: Quem confiou no Senhor e ficou desiludido? 12 Quem permaneceu nos seus mandamentos e foi abandonado? Quem o invocou e foi por ele desprezado? 13 Pois o Senhor é compassivo e misericordioso, perdoa os pecados no tempo da tribulação, e protege a todos os que o procuram com sinceridade.

Evangelho: Mc 9,30-37

Naquele tempo, 30 Jesus e seus discípulos atravessavam a Galileia. Ele não queria que ninguém soubesse disso, 31pois estava ensinando a seus discípulos. E dizia-lhes: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão, mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará”. 32 Os discípulos, porém, não compreendiam estas palavras e tinham medo de perguntar. 33 Eles chegaram a Cafarnaum. Estando em casa, Jesus perguntou-lhes: “Que discutíeis pelo caminho?” 34 Eles, porém, ficaram calados, pois pelo caminho tinham discutido quem era o maior. 35 Jesus sentou-se, chamou os doze e lhes disse: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” 36 Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no meio deles, e abraçando-a disse: 37“Quem acolher em meu nome uma dessas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou”.
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Servir Ao Senhor Com Paciência e Esperança

Filho, se decidires servir ao Senhor, permanece na justiça e no temor e prepara a tua alma para a provação. Mantém o teu coração firme e sê constante, inclina teu ouvido e acolhe as palavras de inteligência, e não te assustes no momento da contrariedade. Suporta as demoras de Deus, agarra-te a ele e não o deixes, para que sejas sábio em teus caminhos”, lemos na Primeira Leitura o conselho do autor do Eclesiástico.

“Se decidires servir ao Senhor...” Serviremos ao Senhor quando servirmos ao irmão, especialmente aos mais necessitados com quem o Senhor se identifica (cf. Mt 25,40.45). Por isso, servir aos demais é o centro do cristianismo. O próprio Senhor veio ao mundo para servir e não para ser servido e entregar sua vida para resgatar os homens (Mc 10,45). Servir não é buscar a si mesmo nem pretender ser protagonista no ato de servir, pois a questão é servir para salvar. Quem serve deve estar em segundo plano. Servir é fazer o outro crescer. Servir é dar a vida. O segredo do serviço é a caridade para todos. Se quisermos servir aos outros, verdadeiramente, nós devemos nos esquecer de nós mesmos e procurar fazer os outros felizes. No verdadeiro serviço, quem serve não se pergunta se é feliz e sim se as pessoas ao redor são verdadeiramente felizes com seu serviço e sua presença.

Servir aos demais não é uma loucura, pois aceitar ser cristão significa querer imitar Cristo que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Ele morreu para nos salvar.

Portanto, tomemos cuidado para que a responsabilidade que assumimos na Igreja não se torne para nós uma ocasião da soberba, da vaidade, da prepotência e do desejo de aparecer.

O autor do Eclesiástico acrescenta: “Filho, se decidires servir ao Senhor,... prepara a tua alma para a provação”. Trata-se de uma advertência realista e aplausível. Os que nos amam verdadeiramente, falam assim. “Prepara a tua alma para a provação”. Os que conhecem o caminho e sabem que não é carinho ocultar as dificuldades nem é doçura criar ilusões enganosas. “Prepara-te para a prova! Não te assustas!”.

Todo homem que quiser viver conforme a vontade de Deus, haverá de preparar-se para uma luta constante contra as provações. A virtude se aperfeiçoa na contrariedade. As provas nos fazem maduros e nos purificam como ouro no fogo. As provações nos fazem pensar, nos convidam a relativizar tantas coisas e nos dão importância às que valem a pena. Se ficarmos desanimados é porque não confiamos suficientemente em Deus. Com o Senhor não há dificuldade insuperável.  Com a luz do Senhor vamos adquirindo a verdadeira sabedoria que nos traz também a felicidade. Há momentos de obscuridade, mas à noite sempre lhe segue a aurora. Há crises, mas os túneis têm seu final e aparece a luz. Há Sexta-Feira da Paixão, é trágica, mas desemboca no Domingo da ressurreição.

A fonte da força cristã está na seguinte frase: “Suporta as demoras de Deus, agarra-te a ele e não o deixes, para que sejas sábio em teus caminhos”. A chave não é: “Sejas um super homem!”, nem tampouco “Faz de conta que não aconteça nada!”. A grande chave para seguir adiante é “Agarra-te ao Senhor e não O deixes para que sejas sábio em teus caminhos”.

Servir Ao Senhor Com Temor

Conserva o seu temor, e nele envelhecerás. Vós que temeis o Senhor, contai com a sua misericórdia e não vos desvieis, para não cair. Vós, que temeis o Senhor, confiai nele, e a recompensa não vos faltará. Vós, que temeis o Senhor, esperai coisas boas: alegria duradoura e misericórdia. Vós, que temeis o Senhor, amai-o, e vossos corações ficarão iluminados”, assim lemos na Primeira Leitura.

Geralmente, a teologia distingue três tipos de temor: temor mundano, temor servil e temor filial.

O temor mundano vê em Deus unicamente o autor de castigos, e um obstáculo para a realização de bens terrenos, vedados pela lei divina. Este temor considera que o mal absoluto não é o pecado e sim a pena com que Deus, inevitavelmente, reordena seu fim para as criaturas rebeldes.

Há também o temor servil. No temor servil há medo de pena ou do castigo doloroso. Posto que é bom temer o que se deve temer. Trata-se de um medo moralmente justificado. O que há de mal neste temor não é o próprio temor e sim o servilismo, segundo Santo Tomás de Aquino, em que não se atua com liberdade e por amor, e sim se atua quase à força por medo de castigo doloroso.

Por fim, há temor filial. O temor filial nasce do amor a Deus. É o medo diante da possibilidade de ficar separado do Bem Supremo. Seu objetivo imediato, portanto, é o pecado (ou a culpa) que é considerado como único mal absoluto. Este temor leva consigo uma atitude de respeito e reverência diante de nosso Criador e Salvador de Quem dependemos em tudo. Mas não se trata de uma reverência formal, mas trata-se de uma reverência cheia de sinceridade e confiança que se funda na realidade da filiação divina. Quanto mais cresce o amor a Deus, mais diminuirá o medo da pena ou do castigo. São João nos relembra: “No amor não há temor; ao contrário: o perfeito amor lança fora o temor, porque o temor implica castigo, e o que teme não chegou à perfeição do amor” (1Jo 4,18).

O temor filial é também um dos dons do Espírito Santo pelo qual a alma se refugia sob a proteção divina, abandonando qualquer outro motivo de segurança e confiança que seja o próprio Deus. Paradoxalmente, o dom de temor de Deus dá à vida cristã um tom de coragem e de ousadia: não há nada que possa atemorizar, porque não há nada que possa nos separar do amor de Deus (cf. Rm 8,35-39).

Os temerosos de Deus (temor filial) podem gloriar-se da amizade e da proteção de Deus, de possuir o princípio da sabedoria pela qual vem a ser para eles uma fonte de alegria intensa e desbordante: “Vós, que temeis o Senhor, esperai coisas boas: alegria duradoura e misericórdia”. O temor de Deus defende os cristãos de praticar o mal e os induz à prática do bem, o que lhes proporciona uma grande paz e gozo interior. Este temor de Deus é o princípio da sabedoria, porque induz o homem ao cumprimento da vontade de Deus.

Renúncia e Entrega Tal De Nossa Vida Tornam-Nos Colaboradores de Cristo

Pela segunda vez Jesus revela aos seus discípulos sua próxima Paixão (Mc 8,31-33; 10,31-34). Ao mesmo tempo ele abandona deliberadamente a pregação à multidão (Mc 9,30) incapaz de compreendê-Lo para se dedicar exclusivamente à formação definitiva dos discípulos: “Ele não queria que ninguém soubesse disso, pois estava ensinando a seus discípulos”.

Ensinar é uma das preocupações de Jesus nos evangelhos, especialmente no evangelho de Marcos (Mc 1,22; 4,2; 6,2; 9,31 etc..). Jesus Cristo é a Palavra divina (Jo 1,1). Jesus é a Palavra inesgotável de Deus para se comunicar com os seres humanos. Como a Palavra divina, as palavras de Jesus são sempre promessa e expressão de vida. Através de seu ato e atividade de ensinar Jesus quer que os seus ouvintes cresçam na liberdade e dignidade tendo consciência critica sobre a realidade ao seu redor (cf. Mc 1,22).

Cada cristão é chamado a ser educador-profeta. Os profetas falam em nome de Deus, são Seus porta-vozes que sacudam as consciências, levantem as vidas de mediocridade, de desesperança, do tédio e de insensibilidade. Todo profeta é educador e todo educador cristão é chamado a ser um profeta. A educação é, portanto, uma vocação de serviço. Cada cristão, cada educador cristão é chamado a transformar cada lugar, cada escola em lugares de vida nos quais se aprende a viver e conviver, a desfrutar a vida e a dignidade, a defender a vida, a combater tudo o que ameace a vida.

Em seguida, Marcos nos relatou sobre o anúncio da Paixão, morte e ressurreição de Jesus. Ao anunciar pela segunda vez aos seus discípulos sua paixão e morte Jesus quer educá-los sobre o que significa seguir a Jesus Cristo. Mas os seus não estão dispostos a atender o que seu Mestre quer dizer ou ensinando. O que lhes preocupa é “quem será o mais importante”. Cada educador, cada mestre precisa ter paciência em ensinar ou educar. É um trabalho de serviço. Um servo está sempre disposto e disponível para atender a seu senhor.

Para acabar com a ambição dos discípulos de quererem ocupar primeiros lugares Jesus dá algumas lições (ensinar) sobre o estilo de vida para quem quiser ser seu discípulo. Jesus marca as linhas fundamentais da espiritualidade que se deve respirar qualquer comunidade cristã. A idéia-mestra é esta: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!”. Isto é, ser o servidor de todos.

Para acentuar a lição dada aos discípulos Jesus põe uma criança (um menino) no meio deles:Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no meio deles, e abraçando-a disse: ‘Quem acolher em meu nome uma dessas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou’”. Jesus utiliza uma estratégia pedagógica: coloca um menino no meio e o abraça. Um menino! Uma criança! Quantas coisas diz a imagem deste menino abraçado por Jesus! É um abraço com que Deus abriga, anima e fortalece o novo começo (menino/ criança). É o abraço que envolve toda a confiança, toda a ternura, toda a proximidade do Senhor para quem quiser ser verdadeiro discípulo, e não prematuro mestre.

A figura bíblica do “menino” ou “criança” é símbolo de marginalização e indefesa. No tempo de Jesus, um menino era símbolo de ignorância, imaturidade e insignificância. Um menino era equiparava com os escravos. No entanto, por seu grau de dependência o menino se converte em preocupação permanente para seus progenitores sem os quais o menino não sobreviveria ou não receberia uma boa educação. Assim, o menor se converte no mais importante porque requer a atenção e o cuidado dos maiores. É uma lição viva de pequenez e de humildade. Ser simples é ser modesto, singelo, puro, desprovido de elementos acessórios, isento de significações secundárias, sem luxo nem ostentação. Ser humilde consiste em manifestar a virtude de conhecer suas próprias limitações. É reconhecer ser pó, mas é pó vivente, pois Deus soprou seu espírito nele que o capacita a viver na espera divina.

Por isso, a grandeza do homem está na humildade. “Quanto mais humildes, maiores” dizia Santo Agostinho. Mas “simular humildade é a maior das soberbas”, acrescentou Santo Agostinho. A paz florescerá em qualquer comunidade cristã se seus membros fazem seu o espírito evangélico de humildade e de simplicidade. O próprio Jesus serve de exemplo, pois sua vida está na sua atitude de entrega para a salvação de todos.

Depois que colocou a criança ou o menino no meio dos discípulos, Jesus pronunciou a seguinte frase: ““Quem acolher em meu nome uma dessas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou”. Esta sentença nos recorda a parábola do juízo final (Mt 25,31-46) e o final do discurso missionário (Mt 10,42). Assim a criança aqui assume um sentido novo. Não é mais a criança em sentido próprio e sim o símbolo do necessitado. É o sedento, o faminto, desnudo, o prisioneiro, o marginalizado.

Também podemos ter dificuldades em querer entender a lição que Jesus deu aos discípulos. Tendemos a ocupar os primeiros lugares, a buscar nossos interesses, a desprezar as pessoas que contam pouco na sociedade e das pessoas que não podemos esperar grandes coisas.

Se quisermos colaborar com Jesus Cristo e fazer algo válido na vida, temos que contar em nosso programa de vida com a renúncia e a entrega, com a humildade e a simplicidade. O desejo de poder e a busca dos próprios interesses fazem impossíveis a renúncia, a entrega e impossibilita o cristão a servir aos demais. Um cristão que não serve não serve como cristão. Uma Igreja que não serve, não serve para nada. Servir pela salvação dos demais é o centro do cristianismo. Para sermos felizes temos que fazer os outros felizes. A competitividade faz desaparecer a solidariedade, a compaixão, a igualdade e a colaboração. A competitividade sempre torce para que a vida do outro não dê certo para que ele possa estar em destaque solitariamente para ser adorado pelos demais.

Servir é adorar a Deus em ação. Servir é a oração e a adoração colocadas na prática do amor fraterno. Servir é fazer algo de bom sem esperar nada de troca ou de reconhecimento. Renunciar a ser o servidor, a ser o pequeno significa renunciar Jesus, porque somente quem acolhe sua vocação de serviço como se acolhe um pequeno (criança), acolherá Jesus e o próprio Deus que o enviou. O poder e o serviço se excluem. A ambição de poder é o câncer do serviço. O poder pode servir para muitas coisas, mas não serve para tornar bons os homens. Geralmente os maus líderes produzem os maus funcionários. Um coração corrompido é ninho de discórdia. Uma mente obcecada nunca ilumina bem os caminhos.

P. Vitus Gustama,svd

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